A boa fonte secou
Por Fábio Barros*
É interessante a gente notar como certos “movimentos” econômicos têm impacto direto em nosso dia-a-dia profissional. Um exemplo: a tal tendência de consolidação do mercado, filha mais nova da globalização, muito comum no segmento de TI e, acho, em todos os outros de alta competitividade. Tudo bem. Vou ficar só na área de TI para não correr o risco de generalizar.
Veio a tal globalização e criou-se a necessidade de as empresas crescerem a qualquer custo, sob pena de sumirem do mapa ou serem compradas. Muitas sumiram, outras tantas foram compradas e sobraram aí alguns mamutes corporativos. O interessante é que deste movimento nasceu um outro: o das empresas nascidas para morrer. Muito do mercado de TI é hoje formado por estas companhias, que surgem com um produto ou tecnologia revolucionária e crescem explosivamente durante alguns anos, aí chamam a atenção de algum mamute e, pimba! São compradas.
São compradas, mas se proliferam com uma rapidez incrível e seriam, me corrijam se eu estiver errado, grandes geradoras de notícias, justamente por serem um manancial de inovações. Mas por não nascerem para durar, estas empresas não trazem em seu DNA a cultura de comunicação, só a de vendas. E é essa a cultura empresarial de seus executivos. E é aí que nosso trabalho, nas redações ou nas assessorias, sofre o maior impacto: as boas fontes estão secando.
Aquele executivo que conhece seus concorrentes pelo nome, que sabe a história, e o histórico, da empresa e seus produtos e, principalmente, que sabe avaliar o mercado em que atua sob diferentes pontos de vista, que avalia a economia do País e sabe o quanto ela pode ajudar ou atrapalhar etc. Esse está em extinção. O processo de consolidação reduziu as alternativas e hoje eles são poucos e difíceis de ouvir.
De outro lado, o mercado encheu-se de executivos ávidos por uma entrevista, uma foto, uma frase que seja. Os cargos são pomposos - country managers, diretores gerais, presidentes, superintendentes regionais – e cada vez mais compridos, mas não há informação ali. O foco são as vendas e é disso que se fala. É o fim dos gestores por excelência, que deram seus lugares a vendedores.
Para nós essa mudança é péssima. Tente tirar de um entrevistado desses uma análise de mercado um pouco mais profunda, ou uma opinião um tanto mais consistente sobre macroeconomia e seus impactos no negócio que ele comanda e o que se conseguirá é um enorme vazio no olhar, um suspiro e evasivas. Se o objetivo for uma matéria analítica, a melhor opção é tentar – e esperar – a agenda dos mamutes. Desta “nova geração” só se obtém metas de vendas e percentuais planejados e realizados.
E não culpem as assessorias por isso, pelo menos não todas. Claro que há as que aceitam isso com naturalidade e assumem para si a responsabilidade pela inconsistência de seus clientes, e o conseqüente atrito com as redações. É uma opção, talvez até mais saudável. Para as que tentam criar no cliente um mínimo de cultura de comunicação – o que inclui incansáveis explicações sobre a importância de analisar o mercado, de se relacionar com os jornalistas, de aceitar convites para um evento ou outro, de realizar media trainings e, claro, de dar entrevistas sobre assuntos que vão além do seu pipeline – o resultado, na melhor das hipóteses, é a indiferença: não há tempo para isso, e pronto.
O pior é que não é problema, porque problemas têm soluções. É uma nova realidade, e temos que nos adaptar a ela, tanto nas redações como nas assessorias. Buscar novas fontes de informação, adaptar pautas, prestigiar mais os institutos de pesquisa e menos as empresas, confiar no instinto, recorrer aos sábios já aposentados, mudar de profissão... Quem sabe? Se alguém souber, estamos todos abertos a sugestões.
*Fábio Barros é sócio e gerente de imprensa da Comuni Marketing
É interessante a gente notar como certos “movimentos” econômicos têm impacto direto em nosso dia-a-dia profissional. Um exemplo: a tal tendência de consolidação do mercado, filha mais nova da globalização, muito comum no segmento de TI e, acho, em todos os outros de alta competitividade. Tudo bem. Vou ficar só na área de TI para não correr o risco de generalizar.
Veio a tal globalização e criou-se a necessidade de as empresas crescerem a qualquer custo, sob pena de sumirem do mapa ou serem compradas. Muitas sumiram, outras tantas foram compradas e sobraram aí alguns mamutes corporativos. O interessante é que deste movimento nasceu um outro: o das empresas nascidas para morrer. Muito do mercado de TI é hoje formado por estas companhias, que surgem com um produto ou tecnologia revolucionária e crescem explosivamente durante alguns anos, aí chamam a atenção de algum mamute e, pimba! São compradas.
São compradas, mas se proliferam com uma rapidez incrível e seriam, me corrijam se eu estiver errado, grandes geradoras de notícias, justamente por serem um manancial de inovações. Mas por não nascerem para durar, estas empresas não trazem em seu DNA a cultura de comunicação, só a de vendas. E é essa a cultura empresarial de seus executivos. E é aí que nosso trabalho, nas redações ou nas assessorias, sofre o maior impacto: as boas fontes estão secando.
Aquele executivo que conhece seus concorrentes pelo nome, que sabe a história, e o histórico, da empresa e seus produtos e, principalmente, que sabe avaliar o mercado em que atua sob diferentes pontos de vista, que avalia a economia do País e sabe o quanto ela pode ajudar ou atrapalhar etc. Esse está em extinção. O processo de consolidação reduziu as alternativas e hoje eles são poucos e difíceis de ouvir.
De outro lado, o mercado encheu-se de executivos ávidos por uma entrevista, uma foto, uma frase que seja. Os cargos são pomposos - country managers, diretores gerais, presidentes, superintendentes regionais – e cada vez mais compridos, mas não há informação ali. O foco são as vendas e é disso que se fala. É o fim dos gestores por excelência, que deram seus lugares a vendedores.
Para nós essa mudança é péssima. Tente tirar de um entrevistado desses uma análise de mercado um pouco mais profunda, ou uma opinião um tanto mais consistente sobre macroeconomia e seus impactos no negócio que ele comanda e o que se conseguirá é um enorme vazio no olhar, um suspiro e evasivas. Se o objetivo for uma matéria analítica, a melhor opção é tentar – e esperar – a agenda dos mamutes. Desta “nova geração” só se obtém metas de vendas e percentuais planejados e realizados.
E não culpem as assessorias por isso, pelo menos não todas. Claro que há as que aceitam isso com naturalidade e assumem para si a responsabilidade pela inconsistência de seus clientes, e o conseqüente atrito com as redações. É uma opção, talvez até mais saudável. Para as que tentam criar no cliente um mínimo de cultura de comunicação – o que inclui incansáveis explicações sobre a importância de analisar o mercado, de se relacionar com os jornalistas, de aceitar convites para um evento ou outro, de realizar media trainings e, claro, de dar entrevistas sobre assuntos que vão além do seu pipeline – o resultado, na melhor das hipóteses, é a indiferença: não há tempo para isso, e pronto.
O pior é que não é problema, porque problemas têm soluções. É uma nova realidade, e temos que nos adaptar a ela, tanto nas redações como nas assessorias. Buscar novas fontes de informação, adaptar pautas, prestigiar mais os institutos de pesquisa e menos as empresas, confiar no instinto, recorrer aos sábios já aposentados, mudar de profissão... Quem sabe? Se alguém souber, estamos todos abertos a sugestões.
*Fábio Barros é sócio e gerente de imprensa da Comuni Marketing
5 Comments:
Edú, teje convocado pra brincadeira!!
"Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."
Beijo!
Fabião, mudar de profissão só se for por falta de grana. Porque pela falta de boas fontes, espero que cada vez mais elas cresçam, tá louca?, vc vai dizer...
Não. é que quanto mais generalistas são, melhor para aquele repórter que gosta de buscar o novo, conhecer galera de outro canto... enfim, toda escassez reflete numa abundância -- lembra daquela regra do cara que escreveu a era do capital?
Bjs ... Vê se monta teu blog logo ou aparece sempre por aqui
Montar blog nem pensar... prefiro dar pitaco nos blogs dos amigos.. rsrs
Sobre as fontes, o problema é justamente o contrário: os caras aos quais eu me referi não são generalistas. São especialistas em vendas, e só. Agora, conhecer galera de outro canto é uma das soluções...
Bjão!
Fabio, Ceila, na buena, tá punk encontrar fonte boa. A galera anda com um discurso muito pronto e de modinha. Por exemplo: no mercado de telecom e TI, qualquer executivo que você conversar, independente do assunto, vai encontrar uma forma de encaixar a palavra "convergência" no meio do papo. Até pouco tempo a palavra da vez era "inovação". Está tudo muito igual. Os caras que falam melhor e metem a boca, contam novidades e bastidores estão sumindo ou sendo escondidos pelas assessorias de imprensa, afinal, representam um risco. Como diz o Giba, CEO de multinacional no Brasil é um vendedor de luxo, nada mais que isso. E eu concordo. A função dele é vender e cumprir a cota imposta pela matriz. Só obedece.
Cecilia, não entendi lhufas...
Abraços
Edu
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