Ponto de Vista - Anna Lucia França

Cargo atual: Diretora de Publicações da Fonte da Notícia.
Breve histórico profissional: Sou jornalista formada em 1990 pela PUC-SP. Meu primeiro estágio foi na assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes, mas construí minha carreira dentro do jornalismo diário na grande imprensa. Inicialmente na Folha da Manhã (Folha de S.Paulo, Agência Folha e Folha da Tarde) e depois fui para Gazeta Mercantil, onde permaneci por quase nove anos. Nestes quase 12 anos de redação, cobri desde variedades até agribusiness. O que me deu uma forte bagagem cultural e jornalística.
1 - Como foi a experiência de passar para o outro lado do balcão, especialmente depois de passar anos em uma redação?
Foi meio traumática, pois não saí por escolha própria, mas sim por necessidade. Isso porque a Gazeta Mercantil passava pela sua pior crise, em 2001, e, sem receber salário, saí em busca de emprego. Como o mercado também passava por uma crise, a possibilidade de arrumar uma vaga em outro jornal era remota. Então incluí as assessorias em minha procura por um lugar.
2 - Quais os pontos positivos e negativos dessa virada?
Tomei contato, pela primeira vez, com a realidade de uma assessoria. Diferente da assessoria do Palácio dos Bandeirantes, que passa informações para diversos veículos que reproduzem integralmente, a vida em assessoria comum é mais penosa do que eu tinha imaginado. Trabalha-se muito mais deste lado do balcão, porque tem o antes, o durante e o depois. No entanto, podemos acompanhar todo o caminho que a informação percorre, desde a primeira apuração, elaboração da pauta, sugestão para o jornalista, entrevista e publicação. Quando a matéria é veiculada, a satisfação é imensa porque é a confirmação de que meu “olho” jornalístico ainda está afiado.
3 - Existe algum momento insuportável em que você tem vontade de jogar tudo pro alto e se arriscar novamente nas redações?
Sim, quando um cliente não entende que você não vende pastel e sim informação. Informação esta que o jornalista pode gostar ou não. Porque em assessoria vendemos o intangível, a formação da imagem. E isso é uma construção que leva tempo. Mas os clientes têm pressa, são imediatistas. Nem sempre a primeira sugestão de pauta é aproveitada. Nem sempre um encontro com jornalista rende matéria. Mas para muitos clientes isso soa como absurdo, pois ele está pagando. Porém, costumo dizer que espaço garantido só tem quem faz anúncio.
4 - Valeu a pena?
Claro que sim. Pude abrir minha visão sobre a comunicação como um todo.
5 - Voltaria hoje para a redação? Por qual motivo?
Sim, voltaria principalmente porque aquilo é uma “cachaça”. Sou repórter na essência. Você poder farejar informações, levantar notícias quentes é uma delícia.
6 - É possível se acostumar com o clima e trabalho de assessoria, mesmo com tantas críticas dos jornalistas de redação?
Alguns dizem que não suportariam um mês de trabalho em agências de comunicação. É possível sim. Mas sempre digo que é preciso trocar o “chip”, porque o barato é outro. É justamente ter a visão estratégica da informação. É levantar todos os dados montar um “pacote” que atraia o jornalista. Além disso, é pensar qual o veículo vai aproveitar aquilo tudo melhor. Diria que é mais estratégico.
7 - Recomendaria a mudança a outros profissionais de redação?
Claro que sim. Conhecer todos os papéis é fundamental para formação de um profissional completo. E quando me perguntam se eu sou jornalista ou assessor, eu digo que sou jornalista, que já foi repórter e hoje trabalha com assessoria. Porque tudo isso é comunicação sim.
8 - Como vê a profissão no futuro, principalmente o segmento de assessoria de imprensa?
Acho que a profissão de jornalista está se transformando como um todo. E a tecnologia é a grande responsável por isso. A informação on-line a tempo e na hora está impulsionando tudo. Além disso, as empresas já perceberam que precisam se comunicar com seus diversos públicos. Daí o surgimento de sites, newsletter, boletins etc. E o jornalista é o grande fornecedor destes conteúdos, abrindo um leque de possibilidades. Mesmo a grande imprensa passa por mudanças. As redações são cada vez mais enxutas, mas a necessidade de boa informação e bons profissionais sempre existirá. Prova disso é a legião de free lancers que há hoje no mercado. Penso que, se alguns profissionais não se derem conta disso, vão sofrer muito. Desde a época da greve da Gazeta, quando vi muitas pessoas sofrendo porque se vêem apenas como intelectuais, esquecendo que precisam sobreviver, pensei muito sobre as mudanças. Neste novo cenário, mais independente, o jornalista precisa saber quanto custa seu trabalho para poder cobrar corretamente. Assumir o comando da sua vida é um risco, mas tem muitos ganhos.
Leia também as outras entrevistas:
Cibelle Bouças, repórter do Valor Econômico
Fábio Barros, sócio e gerente de imprensa da Comuni Marketing
Marcadores: entrevista
1 Comments:
Descer o pau em Anna Lucia França? Quem é louco de fazer isso?
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