Ponto de vista - Fábio Barros

Nome: Fábio Barros
Cargo atual: sócio e gerente de imprensa da Comuni Marketing
Jornalista profissional há 16 anos, formado pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM) em 1990, com especialização em Jornalismo na Internet (Unicamp/SP) e Jornalismo Holístico (ECA/USP). Início na carreira em 1989, como repórter policial do Diadema Jornal. Em 1990, foi para o Diário de Piracicaba, também para cobrir Polícia. Depois de passar por Geral e Esportes, acabou em Política. Em 92, foi para o Jornal de Piracicaba (editoria de Política). No início de 94 assumiu a diretoria de comunicação da Câmara Municipal de Piracicaba, onde ficou até o final daquele ano. Em 1995, de volta a São Paulo, passou a atuar como assessor de imprensa, função que exerceu por cincos anos em diversas agências, atendendo empresas como Compaq, Nokia, Tektronix, Elgin Printers, Progress Software e Baan, entre outras. Em 2000 foi para o Computerworld, onde trabalhou como repórter, editor-assistente e editor interino. Assumiu a gerência de imprensa da Comuni em maio de 2004.
1 - Como foi a experiência de passar para o outro lado do balcão, especialmente depois de passar anos em uma redação?
Na verdade é minha terceira mudança de lado de balcão, mas em condições absolutamente diferentes. Hoje a experiência tem sido muito boa. Na primeira vez em que troquei de lado não tinha a menor idéia do que era trabalhar em assessoria e, muito menos, sobre o que era a área de TI (foi ali que tomei contato pela primeira vez), o que tornou a primeira vez frustrante, como a maioria das primeiras vezes: atendia empresas de um mercado que eu não conhecia e estava envolvido com processos, controles e exigências – muitas exageradas – das agências em que eu trabalhei. Tudo bem, foram apenas três, mas tão parecidas que eu achava que deviam ser todas iguais.
Quando voltei para a redação, prometi que nunca mais poria os pés em uma assessoria, intenção que foi mudando com os anos, até que surgiu a oportunidade aqui na Comuni. Aqui há duas diferenças: uma é que fiquei anos em uma publicação especializada no mesmo segmento foco da agência e outra é que, mais velho e conhecendo melhor o mercado, você percebe que algumas coisas podem ser feitas do seu jeito – e continuam dando certo – e que outras não precisam ser levadas tão a sério. Por isso esta tem sido uma boa experiência e só tem sido assim por causa dos anos que passei na redação.
2 - Quais os pontos positivos e negativos dessa virada?
No meu caso específico, o grande ponto positivo foi o ganho de flexibilidade e autonomia. Não se trata de trabalhar, ou não, quando bem entendo, mas de estabelecer uma política baseada em resultados (de fato, não apenas no discurso). Isso significa que quando não há o que fazer (e todo mundo sabe que sempre há momentos em que não há o que fazer) não me obrigo a ficar no escritório. É possível trabalhar como um louco pela manhã, na certeza de que a tarde estará livre (claro, sempre com o celular ligado).
Outro ponto positivo é a possibilidade de ter o salário diretamente ligado aos resultados. Hoje eu sei que quanto mais eu trabalhar, mais vou ganhar.
De negativo há alguns pontos. O clima, por exemplo. Por mais descontraída que seja, uma assessoria nunca será igual a uma redação, nunca vai pulsar como uma redação. Há também o modo como você é visto pelo mercado, embora isso esteja mudando. Mas ainda há quem pense que estar numa assessoria é uma regressão na carreira ou sinal de incapacidade de sobreviver nas redações.
Outra coisa – mas essa você trabalha com o tempo – é ajustar o seu ego. Nos primeiros meses de volta a assessoria, você sente falta da “bajulação” das redações. Por mais que a gente não reconheça, todos nós sabemos que o jornalista, quando está em veículo, é mimado pelo mercado: almoços, viagens, cumprimentos em lugares públicos, cobertura de eventos etc. Mente quem diz que não se acostuma com isso e mente mais ainda quem diz que não sente falta, pelo menos no início. Sente sim, até perceber que o mimo não era para você, mas para o cargo que você ocupava e que em assessoria não há elogio, trabalho bem feito é obrigação e se o repórter da Gazeta de Cabrobó errou o sobrenome do fundador da empresa, a culpa é sua. Aí você cai na real e começa a cuidar da sua vida.
3 - Existe algum momento insuportável em que você tem vontade de jogar tudo pro alto e se arriscar novamente nas redações?
Há vários, mas são sempre suportáveis, senão eu já teria mesmo jogado tudo pro alto e tentado voltar para a redação. Mas estão geralmente ligados ao desconhecimento que as empresas têm do trabalho da assessoria, e da imprensa em geral. É duro você apresentar um senhor relatório de clipping para ao cliente e ouvir: “não está bom, não gerou nenhuma venda pra mim”, ou “mas nenhum amigo meu viu nada disso. Eu preciso aparecer na Exame”, ou “quanto custa essa entrevista que o jornalista quer?”.
Tem muita gente em assessoria que reclama da dificuldade de relacionamento com os jornalistas, mas aí acho que conta muito já ter trabalhado em redação. Nesta minha segunda volta não tive qualquer problema desse tipo. Mas é comum ouvir o assessor que reclama de um coice que levou de um editor de um grande jornal diário. Você pergunta a que horas ele ligou, e ele: “pô, ainda não eram 18h e o cara já estava com aquele stress todo”. Aí não tem jeito.
4 - Valeu a pena?
Valeu e está valendo (com o perdão do gerúndio). Tem experiências pelas quais você tem que passar e, depois, fazer alguma coisa com o conhecimento que acumulou com elas. São degraus. Minhas primeiras experiências em redação me ensinaram a escrever de maneira razoável, que foi o que me garantiu o início em assessoria, que me apresentou a área de TI e me levou a uma publicação especializada, que me especializou em um segmento de mercado, que foi o que me trouxe para cá. Vale a pena por isso. O legal de se ter experiência é poder usá-la para começar outras coisas.
5 - Voltaria hoje para a redação? Por qual motivo?
O motivo seria gostar muito de apurar, escrever, editar e tudo mais que cerca uma publicação. Mas não penso em deixar a Comuni, que é um projeto pessoal. O que eu imagino às vezes é a possibilidade de conciliar as duas coisas. Alguma coisa como voltar a escrever e assumir somente funções estratégicas na agência. Mas não acho possível, principalmente por causa das desconfianças que geraria de um lado e de outro. Então, não voltaria.
6 - É possível se acostumar com o clima e trabalho de assessoria, mesmo com tantas críticas dos jornalistas de redação? Alguns dizem que não suportariam um mês de trabalho em agências de comunicação.
Depende muito da assessoria. Na verdade, depende muito da visão que a assessoria tem dos seus clientes e de seus profissionais. Se a agência se vê como um fornecedor como outro qualquer, que está ali para servir o cliente no que, e quando, ele quiser e faz de seus funcionários apenas agentes dessa relação, aí ela será um lugar onde alguém vindo de uma redação não suportará trabalhar um mês, talvez nem uma semana. Porque em lugares assim a pressão é enorme. Ela vem do cliente, vem dos jornalistas e vem da própria agência, cada um com suas necessidades e todas divergentes, justamente por causa da postura de “pizzaria”.
Por outro lado, se agência se vê como uma consultoria especializada em uma área sobre a qual o cliente não tem domínio ou conhecimento e vê seus funcionários como profissionais especializados nisso, aí a relação muda completamente. O assessor deixa de ser um entregador de pizza e passa a ser visto um jornalista, cuja opinião e as sugestões têm que ser respeitadas. Isso não significa que o cliente vai fazer sempre o que a agência sugerir, mas quando ele não fizer, não poderá dizer que não foi avisado. Por outro lado, em empresas com essa visão, as pressões são menores, e são negociáveis. A agência respeita o profissional e dá suporte ao trabalho dele, com o tempo o cliente passa a respeitá-lo e, com isso, as redações passam a ser atendidas. Quando alguma coisa não for possível, estará claro para todo mundo que ela não foi realmente possível.
7 - Recomendaria a mudança a outros profissionais de redação?
Só para os que já estivessem propensos a isso. Da mesma forma que a redação, também a assessoria envolve uma boa dose de “estar a fim”. Não recomendaria para alguém que estivesse visivelmente feliz na redação, só para quem estivesse quase indo, mas ainda em dúvida, ou com medo. Recomendaria também que analisasse bem o convite e o tipo de agência.
8 - Como vê a profissão no futuro, principalmente no segmento de assessoria de imprensa?
Com preocupação, mas é uma análise muito pessoal. As redações estão cada vez mais enxutas e as assessorias são hoje as grandes responsáveis pela absorção da mão-de-obra de jornalistas. Isso é bom para os jornalistas, mas aqui entra minha visão pessoal: não acredito que profissionais que não tenham alguma experiência em redação possam ser bons assessores. A redação dá ao profissional noção de tempo, de urgência, traquejo com situações inesperadas e conhecimento de outras redações que dificilmente um jornalista nascido e formado na agência terá um dia.
Mas o movimento para o futuro parece inverso: a primeira formação daqueles que ficarem na peneira das redações caberá mais e mais às assessorias. Eu espero estar errado, mas a se manter assim, no futuro teremos duas categorias distintas de profissionais: os poucos jornalistas de redação e os muitos jornalistas de assessoria, com formações e experiências diferentes e, portanto, com sérias dificuldades de relacionamento.
Marcadores: entrevista
17 Comments:
Gostei bastante. Eu já disse um dia "eu nunca trabalharei em assessoria". Já não penso mais assim, apesar de ter certeza que ainda tenho um longo caminho dentro deste ambiente estressante, estafante, mal remunerado, mal dormido, mal... eeeee parei!
Fábio, legal seu depoimento!
abs
Viva o Fábio! E viva o meu Dudu por nos proporcionar coisas tão bacanas pra ler, neste blog que é especial (e agora, está virando essencial).
Esse Fábio Barros é bom mesmo! Tanto que até casei com ele (risos).
Agora, papo sério. Admiro mesmo o Fábio como jornalista. Como sempre digo: é um puta profissional. E mais do que isso, é meu consultor.
Sobre o blog: Edu, essas idéias de artigos e entrevistas são bárbaras. Ótimas pra ajudar aqueles em dúvida sobre a carreira, os focas e até mesmo os que ainda não aprenderam a relação "assessoria x redação". Parabéns aos dois!
Fala Fê, tudo certo?
Mais uma vez obrigado pela visita e comentário. Essa é exatamente a proposta. Lavar a roupa suja, colocar todos os pontos de vista. Ainda teremos mais novidades... minha idéia é ajudar o povo a entender melhor os dois lados.
Grande abraço
Edu
Brunão, acho que todos já chegamos a dizer isso lá nos primórdios. Sinceramente, nunca conheci ninguém que estivesse na faculdade de jornalismo para fazer assessoria de imprensa. Geralmente, quem se interessa pelo ramo é Relações Públicas. Enfim, as circunstâncias do mercado são outras e o povo precisa se virar. Vale qualquer negócio e não vejo nenhum problema em trabalhar em assessoria. O trabalho do pessoal de assessoria é tão digno quanto o das redações.
Abs
Edu
pois é edu, além de informativo seu blog é divertido. com o tempo a gente vai aparando as arestas entre os figurinhas do mercado.
E só para comprovar que a gente vive correndo...só agora notei que postei o primeiro comentário no texto errado. Eta pressa! Lá vai de novo...
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bacana o depoimento do Fábio. É sempre bom compartilhar experiências com quem já esteve nos "dois lados do balcão". No entanto, por experiência própria, acredito que bons assessores independem do trabalho efeito em uma redação. No meu caso - sou RP - nunca trabalhei e não tenho intenção de fazê-lo. (nem vou entrar na questão da obrigatoriedade do diploma, essa é uma outra história...)O que valeu mesmo foi a excelente formação que recebi dos profissionais com quem trabalhei e trabalho - boa parte RPs, mas com profundo conhecimento da dinâmica das redações. E mesmo assim as circunstâncias por vezes nos obrigam a divulgar uma pauta capenga ou ligar em horários inconvenientes (mesmo sabendo que lá vem pedrada).
Hoje a agência tem praticamente o mesmo número de RPs e jornalistas. Uma convivência saudável e produtiva em que trocamos experiências e formação para desenvolver o melhor trabalho possível.
Quanto à grosseira de jornalistas - excluindo casos absurdos como o citado - vale lembra que muitos acham mesmo que são superiores e não deveriam ser incomodados por meros assessores, independentemente do horário, da pauta, do cliente.
abs,
Acho interessante, agora que estou experimentando outras verticais além de finanças, a diferença do atendimento das assessorias. Em Telecom, por exemplo, não é dificil conseguir um executivo bacana como um diretor ou até presidente para uma entrevista. Já algumas assessorias de banco ainda vivem na era do "jornalista com sobrenome de publicação". Sem generalizações, é engraçado como ser o Fulano da Folha consegue muito mais facilmente uma fonte que o Beltrano "daquela revistinha segmentada"
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
É Brunão, também passo por isso. Apesar do povo de assessoria negar, ainda há uma certa "falta de vontade" no atendimento quando você não trabalha nos famosos Valor Econômico, Gazeta, Folha, etc. Com raras exceções, a preferência é sempre dada a esses veículos. Quer um exemplo? Quando você precisa falar com um executivo, o pessoal da assessoria "vai verificar". Se você estivesse no Valor, em cinco minutos estariam com o cara na linha. Isso foi muito percebido pela Juliana Carpanez, que trabalhou conosco aqui na editora. Quando ela foi para a Folha Online Informática, o tratamento era outro, principalmente das assessorias de grandes empresas.
Que legal encontrar foto, opinião e um FABIÃO mais de verdade. É que essa fera entrevistada gosta de se esconder um pouco nas brincadeiras, deixando o ser humano um pouco escondido. Acho que o Fábio não só se tornou um assessor realizado porque continua sendo um ótimo jornalista -- tem felling, enxerga pauta toda hora e sabe a quem agradar no jogo das vaidades empresário e jornalista -- mas também porque ELE SE SENTE MAIS LIVRE E VERDADEIRO.
Queria também prolongar a pergunta sobre o futuro dos jornalistas:
2- vc acredita que no futuro seu filho vai estar tão acostumado com as informações da wikipédia, das comunidades, dos fóruns e do blog, que a informação pessoal passará a prevalecer a do jornalismo?
Oi Edu, tudo bem? entrei mundo bloggueiro agora e to adorando conhecer os blogs. o seu veio por meio do giba. e aí quando vi a foto do Fabião. tive que escrever pra ele. Vc entende, né!
Adorei a entrevista, mas só depois que escrevi meu comentário que fui ver os demais. e quer saber, o mais legal do seu blog é que está conseguindo FLUIR -- tira as pessoas da inércia para começar a pensar, trocar idéias. enfim coisas que fazemos com a ceva do lado, mas não rola da mesma maneira. Brigaduuuuuuu por ter visto um pedacinho do desconhecido mundo da assessoria
Eu gostei da entrevista, mas repilo as coisas não ditas:
1) Essa foto não é do Fábio. Se for ele, é a prova de que assessoria faz a gente perder muito peso (rs).
2) Ele não revela que chegou na redação um dia, abriu os braços se espreguinçando e disse que havia acordado com disposição de Jane Fonda
3) São tantas as lembranças que aquele seu cavanhaque me proporcionam agora que, emocionado, não posso mais listar o que faltou a essa entrevista.
Eu gostei da entrevista, mas repilo as coisas não ditas:
1) Essa foto não é do Fábio. Se for ele, é a prova de que assessoria faz a gente perder muito peso (rs).
2) Ele não revela que chegou na redação um dia, abriu os braços se espreguinçando e disse que havia acordado com disposição de Jane Fonda
3) São tantas as lembranças que aquele seu cavanhaque me proporcionam agora que, emocionado, não posso mais listar o que faltou a essa entrevista.
Eu gostei da entrevista, mas repilo as coisas não ditas:
1) Essa foto não é do Fábio. Se for ele, é a prova de que assessoria faz a gente perder muito peso (rs).
2) Ele não revela que chegou na redação um dia, abriu os braços se espreguinçando e disse que havia acordado com disposição de Jane Fonda
3) São tantas as lembranças que aquele seu cavanhaque me proporcionam agora que, emocionado, não posso mais listar o que faltou a essa entrevista.
Ricardo Humberto (Rickyy):
Dudu em primeiro lugar quero dizer que o blog está ótimo, e principalmente por não subir muros separando os jornalistas de assesoria e de redação. Não sabemos o dia de amanhã. Hoje estamos em uma agência, amanhã numa redação e vice-versa. Um fato muito importante abordado pelo Fábio é a escolha da agência em que se deseja trabalhar. Infelizmente o esquema "pizzaria" existe, e geralmente a tal pizza não é bem preparada. Resultado: tanto o cliente quanto os veículos de comunicação ficam insatisfetos com a tal pizza servida. Muitas vezes isso acontece porque algumas agências e seus respectivos proprietários, com medo de perderem seus clientes prometem mundos e fundos, cedem a todos os pedidos, e muitas vezes divulgam notícias desinteressantes. Por essa razão muitos jornalistas que migram para assessorias acabam se frustrando com a tal experiência profissional. Mas felizmente exitem mais assessorias e assessores exeprientes que devem servir de exemplo de profissionalismo para o restante do mercado.
Prezado Anônimo Borges Marzochi, sobre seus comentários, tenho a dizer que:
- de fato a assessoria emagrece, mas casamento novo emagrece muito mais... 18 kg até aqui.
- o dito comentário de fato foi feito, mas por outro colega de redação.
- sim, tem dias que eu também tenho saudades do meu cavanhaque. Mas agora que eu só tenho um queixo, ele não é mais necessário.
Aee Ceilão!!! Agora frila blogueira! Aproveite, porque pela primeira vez na vida vou falar sério com você... rsrsrs
Sobre a sua pergunta, acredito que meu filho vai estar acostumado a isso tudo, como nós nos acostumamos com a TV e o vídeo. Também acredito que de algum jeito isso tudo vai influenciar a forma como fazemos jornalismo. Mas não acredito que a informação pessoal vai se sobrepor. O fato de vc criar novos meios de comunicação interpessoal não elimina a necessidade da informação pública, geral. Agora, o meio com certeza vai ter que se adaptar. Não vejo meu filho com um jornal aberto em cima da mesa lendo notícias daqui a alguns anos, mas na frente de um computador (notebook, handheld, celular ou o que for).
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