Ponto de vista - Cibelle Bouças

Cargo Atual: Repórter
Breve histórico profissional: Trainee na Gazeta Mercantil em 2000, repórter de agronegócios e alimentos pelo InvestNews e Panorama Setorial, entre 2000 e 2001. Repórter de indústria pelo Panorama Brasil (atual DCI) em 2002. Assessora de imprensa (para Diagnósticos da América) em 2002. Repórter e assessora de imprensa para o Conselho Regional de Odontologia de Minas (CRO-MG) entre 2003 e 2004. Repórter de agronegócios no Valor Econômico desde março de 2004.
1) Você é mineira, arriscou a pele vindo para SP para tentar a carreira em jornalismo. Como foi essa experiência?
Foi uma experiência muito importante, não só profissionalmente como também para minha vida pessoal, afinal foi a primeira vez que saí de casa para morar em uma república. Ter que se adaptar à empresa, a uma casa nova a pessoas novas é sempre um desafio. Não me senti "arriscando" tanto a pele porque passei no curso de trainees da Gazeta. Então tinha pelo menos seis meses para tentar "um lugar ao sol". Graças a Deus deu certo.
2) De que forma encarou os problemas enfrentados na Gazeta Mercantil? Pensava em pegar a primeira coisa que aparecesse? Foi o que fez?
Foi uma fase muito difícil. Por ter sido trainee, recebia um salário muito baixo, que não me permitia poupar. Então, cada mês que fiquei sem salário foi um mês sem pagar aluguel, sem pagar conta de luz, entre outras dificuldades. Nessa fase, eu já morava sozinha e quando o locador me mandou a carta de despejo, percebi que não havia motivos para ficar trabalhando de graça para uma empresa. Não entro no mérito das pessoas que ficaram na Gazeta, mas acho que trabalho é um negócio, você presta serviço e é pago por isso. Se presto o serviço em dia e com qualidade, não há porque não receber a contrapartida da empresa.
3) E no que deu?
Busquei outros trabalhos, o que aparecesse, afinal tinha que pagar o aluguel e restabelecer a minha imagem com o dono do apartamento. E tinha que viver, comer, pagar contas, etc. Mandei currículos para muitos lugares e consegui uma vaga no Panorama Brasil, por um salário mais baixo que o que tinha na Gazeta. Mas à época, foi o que me salvou. Fiquei pouco tempo e depois fui para uma assessoria de imprensa, onde trabalhei por seis meses.
4) Não agüentou ficar em assessoria por muito tempo. Por qual motivo?
Na verdade, eles é que não me agüentaram! Falando sério, prestei serviços para uma empresa que não pagou a assessoria de imprensa para a qual eu trabalhava. Eles tiveram muitas brigas entre si por conta de contrato e no fim, desfizeram o negócio. Eu e outra jornalista que fazíamos assessoria fomos dispensadas.
5) Como você explicaria a mudança de lado, ter de entrar em contato com os amigos de coletivas para vender pautas por uma assessoria, por um cliente?
Considero um fato natural. As redações reduziram muito o número de repórteres e muitos profissionais migram de área. O fato de conhecer o jornalista e de saber como funciona o veículo em que ele trabalha e o tipo de pauta de pode interessar ajuda bastante.
6) Fica mais fácil justamente por conhecer os jornalistas e ter um relacionamento com eles?
Certamente. Mas é sempre bom ter o cuidado de sugerir a pauta naturalmente, sem "forçar" muita intimidade com o repórter porque já o conhece. Muitos não gostam dessa aproximação com assessor de imprensa. É ridículo, mas já passei por isso quando era assessora.
7) Acredita que as assessorias dão atendimento especial a você por trabalhar no Valor Econômico?
Ah, muitas assessorias dão tratamento diferente sim! O tratamento é completamente diferente de quando eu trabalhava no DCI, por exemplo. Recebo mais sugestões de pauta e percebo que muitas assessorias têm mais preocupação em dar retorno aos pedidos.
8) Costuma "furar" a assessoria, ou seja, ligar direto para a fonte ou somente em casos especiais?
Olha, honestamente, quando o assessor de imprensa é bom, me atende bem, sempre peço para ele. Mas quando sei que o assessor é, digamos, lento para pedir a entrevista e dar retorno, aí ligo direto para a fonte.
9) Voltaria hoje para uma assessoria? Por qual razão?
Voltaria sim, sem nenhum problema. Acho até que poderia ser uma profissional melhor do que fui há três anos atrás. Para mim a assessoria de imprensa é fundamental para dar agilidade ao trabalho jornalístico em redação. Imagine se, para cada pauta que faço no dia, tivesse que ligar para o PABX de uma empresa, pedir à secretária o nome do dirigente e tentar agendar as entrevistas. Eu levaria o triplo do tempo que gasto atualmente para cumprir as pautas. Acho fundamental que repórter e assessor se conscientizem de que um precisa do outro. Quando os dois realizam seu trabalho com eficiência e com respeito ao outro, os resultados são excelentes para a assessoria e para o veículo de comunicação.
Outras entrevistas:
Fábio Barros, sócio e gerente de imprensa da Comuni Marketing
Marcadores: entrevista
4 Comments:
Parabéns Edu! Por mais essa inicativa! Adorei as entrevistas e acho que podem ser muito construtivas principalmente pra quem está começando ou para aqueles qe ainda nã encontraram sua "praia" dentro do jornalismo.
Valeu pela força Claudia. A idéia é essa, ajudar o povo a entender melhor a relação ou se encontrar de vez na profissão. Espero ter muitas outras entrevistas por aqui.
Obrigado pela visita.
Abraço
Edu
Mais uma entrevista fabulosa! Eu tento imaginar como foi difícil o que aconteceu com os funcionários da gazeta. Sei de muitos que deveriam recber 10 e fecharam acordo para receber 2, dividido em 6x.
Uma profissional como a Cibelle que atinge uma publicação como o Valor, com certeza aprendeu muito com todas as dificuldades que passou como ganhar um salário menor e ser dispensada por problemas que não envolviam competência do jornalista, mas sim divergências entre duas empresas.
PArabens Cibelle! Você é um ótimo exemplo para nós foquinhas que estamos descobrindo cada dia a profissão! abs e parabens DU
Ê, Bruno pilantra! Tá de olho numa vaguinha no Valor, é?
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