Artigo - Tipinhos esquisitos
Fábio Barros*
Final de ano é época de festas, descontração e homenagens. Como ferrenho defensor das tradições natalinas, achei que seria legal se este último artigo do ano homenageasse algumas pessoas que tornam nosso dia-a-dia tão mais animado e feliz: os supimpas clientes das assessorias de imprensa.
A homenagem, no entanto, não vai para os clientes medianos. Uma ocasião especial como esta merece que falemos de pessoas especiais, que moram nos corações de cada um dos assessores de imprensa deste País: os tipinhos esquisitos que povoam os departamentos de comunicação, os departamentos de marketing, as diretorias, as vice-presidências e as presidências das empresas deste Brasil varonil.
Alguns deles podem ser de difícil identificação, por isso sua classificação vai acompanhada de uma frase que o caracterize bem e, para ninguém dizer que não ouço os dois lados, alguns comentários que bem poderiam ser feitos por seus fiéis assessores de imprensa.
Clássico
“A entrevista foi boa, mas eu quero aprovar a matéria antes de o jornalista publicar”.
Não quer não. Não quer porque entrevista você dá, não empresta. Não quer porque isso não existe. Não quer porque você não é editor. Não quer porque você não é o dono do jornal (e muitos deles não lêem as matérias antes de publicadas). Não quer porque matéria não é anúncio que precisa de aprovação e não quer porque você deveria ter o mínimo de informações necessárias para ter segurança sobre as coisas que diz quando dá entrevistas.
Tio Patinhas
“Quanto custa para publicar este release na Veja?”
Olha, no seu caso vai custar uns bons muitos anos de aprendizado, mas para facilitar, toma aqui o e-mail e o telefone do editor-chefe. Liga lá e fala direto com ele.
Obediente
“Eu mesmo não vejo utilidade em assessoria de imprensa. Só tenho uma porque a matriz exige”.
Você deveria obedecê-los também quando eles exigem que a empresa apareça em pelo menos 10 matérias por mês e se dispor a dar entrevistas, ao invés de ficar aí reclamando. Depois descobre que seu cargo está balançando e vai exigir dar entrevista pra Deus e o mundo só para descolar outro emprego.
Vendedor
“Olha, nunca fiz uma venda que tivesse sido gerada por matéria em jornal”.
Se é assim, você devia deixar de jogar dinheiro fora. Dispensa a assessoria, que não tem mesmo a função de vender produto, e contrata logo um ou dois vendedores.
Chique
“É duro esse negócio de ficar pagando almoço para jornalista que almoça mortadela todo dia”.
Tem razão. Imagina então para o jornalista, que tem de passar horas ouvindo você e seus gerentes falando de assuntos absolutamente sem interesse, só por causa do almoço.
Samaritano
“Acho que vocês fecharam contrato comigo só por interesse comercial”
É verdade. Vamos fazer assim então: eu fecho minha assessoria e fundo uma ONG para prestação de serviços assistencialistas de imprensa, desde que você também passe a atender os seus clientes sem qualquer interesse comercial.
Comunitário
“Não gostei do resultado desta ação. Nenhum amigo meu viu a matéria”.
Ah, mas você tinha que ter explicados os objetivos antes. Da próxima vez distribuímos o release usando as vendedoras da Avon que atendem o seu bairro.
Familiar
“Você consegue umas 20 dessas para eu levar para casa?”
Consigo sim, fácil, fácil. Algumas editoras, inclusive, estão criando um serviço gratuito de distribuição de exemplares somente para as fontes fotografadas pela revista. Se você preferir, me passa o mailing da sua família e eles entregam nas casas deles.
Invejoso
“Por que a matéria tem foto do concorrente e não tem nenhuma minha?”
Apesar de todas as key messages definidas para sua empresa terem sido citadas na matéria, e de forma positiva, esta falha imperdoável do jornalista acabou com todo nosso esforço. Só me ocorre um motivo: estética. Já lhe ocorreu que, no processo de evolução natural da espécie humana, os progenitores de seu concorrente podem tê-lo agraciado com genes melhores que os seus?
Amigo do rei
“Vou ligar pro dono da rádio e dizer para ele mandar o repórter vir aqui me entrevistar”.
Melhor que isso. Compra a rádio de uma vez e fala nela o dia todo, assim não tem chance de erro.
Precavido
“Por que eu não fui avisado de que esta matéria seria publicada hoje?”
Porque você não trabalha no jornal. Porque o editor não fornece a agenda de publicações dele para as assessorias. Porque eu sou assessor e não secretário de redação da publicação. Porque você recebe periodicamente um relatório onde, além desta, estão todas as outras matérias sobre sua empresa e ele serve exatamente para que você possa vê-las todas de uma vez, sem ter de me ligar todos os dias.
Milagreiro
“Agora que temos uma assessoria, quando começamos a aparecer na imprensa”.
Olha, como eu sou jornalista e não o Espírito Santo, vai ser difícil fazer surgirem do nada matérias sobre sua empresa. As chances de você aparecer aumentam razoavelmente à medida que você me forneça informações consistentes sobre seu negócio e seu mercado.
Exclusivo
“Por que o jornalista não quis fazer a entrevista pessoalmente?”
Provavelmente porque ele tem 47 entrevistas para fazer as 15 matérias que ele tem que entregar ainda hoje. Mas isso não justifica, né? Deve ser má vontade mesmo.
Inseguro
“Será que ele entendeu direitinho tudo o que eu disse?”
Você entendeu e eu entendi, agora, o jornalista, não sei não. Sabe, o veículo para o qual ele trabalha tem o péssimo hábito de contratar pessoas com déficit de atenção e dislexia. Raramente eles entendem as entrevistas que fazem. Aliás, nem sei como conseguem publicar uma edição depois da outra.
Momentâneo
“A imprensa está informada do momento maravilhoso pelo qual minha empresa está passando?”
Que está, está. O que está difícil de informar para eles é que você não aceita o ‘pouco’ espaço que tem recebido porque não percebe que o mundo vai além de sua empresa e que todos os dias acontecem coisas que, embora você não ache, merecem muito mais destaque e análises do que o maravilhoso momento de sua companhia.
Grato
“Vou ligar para o jornalista para agradecer a matéria”.
Não faça isso, ele vai acabar achando que fez alguma coisa errada.
Estes são alguns dos tipinhos esquisitos dos quais me lembrei (sim, são todos reais). Quem se lembrar de outros (sim, há muitos mais), inclua nos comentários e aumente nossa galeria.
*Fábio Barros é sócio e gerente de imprensa da Comuni Marketing
fbarros@comuni.com.br
Final de ano é época de festas, descontração e homenagens. Como ferrenho defensor das tradições natalinas, achei que seria legal se este último artigo do ano homenageasse algumas pessoas que tornam nosso dia-a-dia tão mais animado e feliz: os supimpas clientes das assessorias de imprensa.
A homenagem, no entanto, não vai para os clientes medianos. Uma ocasião especial como esta merece que falemos de pessoas especiais, que moram nos corações de cada um dos assessores de imprensa deste País: os tipinhos esquisitos que povoam os departamentos de comunicação, os departamentos de marketing, as diretorias, as vice-presidências e as presidências das empresas deste Brasil varonil.
Alguns deles podem ser de difícil identificação, por isso sua classificação vai acompanhada de uma frase que o caracterize bem e, para ninguém dizer que não ouço os dois lados, alguns comentários que bem poderiam ser feitos por seus fiéis assessores de imprensa.
Clássico
“A entrevista foi boa, mas eu quero aprovar a matéria antes de o jornalista publicar”.
Não quer não. Não quer porque entrevista você dá, não empresta. Não quer porque isso não existe. Não quer porque você não é editor. Não quer porque você não é o dono do jornal (e muitos deles não lêem as matérias antes de publicadas). Não quer porque matéria não é anúncio que precisa de aprovação e não quer porque você deveria ter o mínimo de informações necessárias para ter segurança sobre as coisas que diz quando dá entrevistas.
Tio Patinhas
“Quanto custa para publicar este release na Veja?”
Olha, no seu caso vai custar uns bons muitos anos de aprendizado, mas para facilitar, toma aqui o e-mail e o telefone do editor-chefe. Liga lá e fala direto com ele.
Obediente
“Eu mesmo não vejo utilidade em assessoria de imprensa. Só tenho uma porque a matriz exige”.
Você deveria obedecê-los também quando eles exigem que a empresa apareça em pelo menos 10 matérias por mês e se dispor a dar entrevistas, ao invés de ficar aí reclamando. Depois descobre que seu cargo está balançando e vai exigir dar entrevista pra Deus e o mundo só para descolar outro emprego.
Vendedor
“Olha, nunca fiz uma venda que tivesse sido gerada por matéria em jornal”.
Se é assim, você devia deixar de jogar dinheiro fora. Dispensa a assessoria, que não tem mesmo a função de vender produto, e contrata logo um ou dois vendedores.
Chique
“É duro esse negócio de ficar pagando almoço para jornalista que almoça mortadela todo dia”.
Tem razão. Imagina então para o jornalista, que tem de passar horas ouvindo você e seus gerentes falando de assuntos absolutamente sem interesse, só por causa do almoço.
Samaritano
“Acho que vocês fecharam contrato comigo só por interesse comercial”
É verdade. Vamos fazer assim então: eu fecho minha assessoria e fundo uma ONG para prestação de serviços assistencialistas de imprensa, desde que você também passe a atender os seus clientes sem qualquer interesse comercial.
Comunitário
“Não gostei do resultado desta ação. Nenhum amigo meu viu a matéria”.
Ah, mas você tinha que ter explicados os objetivos antes. Da próxima vez distribuímos o release usando as vendedoras da Avon que atendem o seu bairro.
Familiar
“Você consegue umas 20 dessas para eu levar para casa?”
Consigo sim, fácil, fácil. Algumas editoras, inclusive, estão criando um serviço gratuito de distribuição de exemplares somente para as fontes fotografadas pela revista. Se você preferir, me passa o mailing da sua família e eles entregam nas casas deles.
Invejoso
“Por que a matéria tem foto do concorrente e não tem nenhuma minha?”
Apesar de todas as key messages definidas para sua empresa terem sido citadas na matéria, e de forma positiva, esta falha imperdoável do jornalista acabou com todo nosso esforço. Só me ocorre um motivo: estética. Já lhe ocorreu que, no processo de evolução natural da espécie humana, os progenitores de seu concorrente podem tê-lo agraciado com genes melhores que os seus?
Amigo do rei
“Vou ligar pro dono da rádio e dizer para ele mandar o repórter vir aqui me entrevistar”.
Melhor que isso. Compra a rádio de uma vez e fala nela o dia todo, assim não tem chance de erro.
Precavido
“Por que eu não fui avisado de que esta matéria seria publicada hoje?”
Porque você não trabalha no jornal. Porque o editor não fornece a agenda de publicações dele para as assessorias. Porque eu sou assessor e não secretário de redação da publicação. Porque você recebe periodicamente um relatório onde, além desta, estão todas as outras matérias sobre sua empresa e ele serve exatamente para que você possa vê-las todas de uma vez, sem ter de me ligar todos os dias.
Milagreiro
“Agora que temos uma assessoria, quando começamos a aparecer na imprensa”.
Olha, como eu sou jornalista e não o Espírito Santo, vai ser difícil fazer surgirem do nada matérias sobre sua empresa. As chances de você aparecer aumentam razoavelmente à medida que você me forneça informações consistentes sobre seu negócio e seu mercado.
Exclusivo
“Por que o jornalista não quis fazer a entrevista pessoalmente?”
Provavelmente porque ele tem 47 entrevistas para fazer as 15 matérias que ele tem que entregar ainda hoje. Mas isso não justifica, né? Deve ser má vontade mesmo.
Inseguro
“Será que ele entendeu direitinho tudo o que eu disse?”
Você entendeu e eu entendi, agora, o jornalista, não sei não. Sabe, o veículo para o qual ele trabalha tem o péssimo hábito de contratar pessoas com déficit de atenção e dislexia. Raramente eles entendem as entrevistas que fazem. Aliás, nem sei como conseguem publicar uma edição depois da outra.
Momentâneo
“A imprensa está informada do momento maravilhoso pelo qual minha empresa está passando?”
Que está, está. O que está difícil de informar para eles é que você não aceita o ‘pouco’ espaço que tem recebido porque não percebe que o mundo vai além de sua empresa e que todos os dias acontecem coisas que, embora você não ache, merecem muito mais destaque e análises do que o maravilhoso momento de sua companhia.
Grato
“Vou ligar para o jornalista para agradecer a matéria”.
Não faça isso, ele vai acabar achando que fez alguma coisa errada.
Estes são alguns dos tipinhos esquisitos dos quais me lembrei (sim, são todos reais). Quem se lembrar de outros (sim, há muitos mais), inclua nos comentários e aumente nossa galeria.
*Fábio Barros é sócio e gerente de imprensa da Comuni Marketing
fbarros@comuni.com.br
16 Comments:
Ótimo comentário. Fico muito feliz por não conseguir identificar meus contatos nessa descrição bem-humorada. Abraço.
aplausos. Meu caro Fabião, vc é demais. Pior é quando assessor não se convence que o cliente dele tá errado por pedir uma ERRATA de um detalhe que não representa informação errada. Odeio isso. Existe detalhes e detalhes. Alguns realmetne transformam a informação, outros, jamais!
puta... do caramba Fabião. abraços
Adorei!
Adorei!
SEEENSACIONAL... matou a pau Fabio... precisa acrescentar outros tipos. Tem o cliente CARENTE: "Dei a entrevista mas o reporter colocou o que disse na boca de outra pessoa". Não falamos do problema da dislexia dos reporteres? Ou será que as idéias e visões do mercado que você deu têm copyright e ninguem mais poderia ter idéias semelhantes?
mto bom..ahahahah
aproveitando o gancho, sei la como vim parar aqui, quero fazer o meu jaba e falar do meu blog...
www.chorumelos.blogspot.com
Bom dia,
Sou assessora de imprensa e sempre leio os comentários postados.
Gostaria de saber se há algo positivo sobre os assessores de imprensa? Na opinião de vocês o melhor seria 'exterminar' com os assessores?! Não ajudamos em nada?!
Obrigada!
Edu,me desculpe por isso... Não gosto de comentar o comentário dos outros, mas não deu para segurar... A assessora de imprensa anônima não leu uma linha do texto, não é mesmo? E não sabe que o Fábio Barros também trabalha com assessoria, né? A resposta pra ela é essa: se seu cliente se encaixa em um desses perfis e você não consegue fazê-lo mudar, o seu trabalho realmente não ajuda em nada.
Abraços
Claudia - Assessora de imprensa
Trabalhar em AI exige todos os afazeres operacionais e estratégicos. Mas nenhum funciona se não tiver a paciência como principal fonte.
Já atendi um cliente, que, logicamente, ERA LÍDER MUNDIAL, que chamou a equipe da AI para uma reunião. A figura queria aparecer no Fantástico ou na Veja!
Ao voltar da reunião contei ao dono da AI e ele acrescentou:
"fala para ela andar pelada na avenida Paulista no horário do rush, quando o tempo estiver bem frio. Quem sabe o Fantástico não vai querer falar com a moça?".
Beijocas!
maravilhoso, fábio. vou anotar as suas dicas que servem não só para os assessores, mas também para os jornalistas de redação. vira e mexe tem fonte que pede pra ler a matéria antes.
Muito boa Fabão!! Ah... e tem também o “cliente Fidel”. Aquele que, nas coletivas de imprensa, gasta duas horas para fazer a apresentação institucional da empresa, uns 20 minutinhos para ‘comentar’ sobre o factual, ou seja, o motivo pelo qual os jornalistas estão ali, aturando toda aquela ladainha. No final reserva uns míseros 10 minutos para perguntas e esclarecimento das dúvidas e depois, cheio de ingenuidade e perplexidade, ainda pergunta para o assessor: “ué, por que a maioria dos jornalistas não ficou para o almoço”?
Cai de para-quedas no seu blog. Cheguei atraves do Pensar Enlouquece. Nao sou jornalista e nao tenho empresa.
Entendo a graca dos comentarios, mas as achei um pouco rispidas. Depois dessa, nao pergunto mais nada pra jornalista...
Acessoria de imprensa deveria vir com manual de instrucoes, vem nao?
Acho que algumas pessoas não entenderam o 'espírito da coisa'. A crítica foi direcionada aos clientes (empresas) e não às assessorias!
Assessoria de imprensa, assim como gente, não vem com manual de instrução. Agora jornalista, tem uns mais fácies e outros mais difíceis... mas é sempre bom não arriscar.
Fábio,
Amei teu texto. A mais pura verdade! Tem que ser entregue como parte do processo a todo novo cliente, já para evitar problemas futuros e deixar claro que não é nada pessoal.
Gabi
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